quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

de vez em quando, aqui também. =)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Young blood is the lovin' upriser


Vendo qual era a boa do shuffle hoje cedo, ele me trouxe a Give it away do Red Hot Chili Peppers. Lembro de quando eu era criança e não sabia o que o Anthony Kieds dizia no refrão, e meu embromation transcendia todos os limites possíveis. E desde que eu me lembre foi através do Red hot que eu comecei a gostar de música. Sempre excêntricos, lembro do clipe com eles todos prateados, o Chad Smith de chifres e o Flea com o cabelo cortado em espiral, Anthony e a mania de cantar com as mãos, e eles dançando feito loucos no deserto. A sensação de estranheza misturada com a energia da música, foi incrível. Give it away sempre foi minha preferida, mas desse álbum, Bloom Sugar Sex Magik também saíram as ótimas Breaking the Girl e a clássica Suck my Kiss. E quem não lembra da versão de Love Rollercoaster regravada por eles, e que foi usada na trilha do filme Beavis and Butt-head do America? Confesso que deu uma cara mais “simpática” para o saudoso desenho.

One Hot Minute ainda tinha vestígios do Blood Sugar Sex Magik e veio com a bonitinha My Friend, a ótima Aeroplane, e lembro que anos depois consegui achar esse álbum na galeria e nunca mais parei de ouvir. One Big Mob e Coffe Shop estavam sempre no repeat do repeat.

Mas muita coisa mudou com Californication. Lembro da capa laranja e azul, e eu andando para todos os lados com o CD no discman. Do vídeo clipe de videogame de Californication e da destruição de Scar tissue, a excentricidade em Otherside, que contagiava todo mundo. Esse foi sem dúvidas um dos álbuns que eu mais ouvi na vida. Senti que a pegada Give it away foi deixada um pouco de lado. Californication veio com mais violão e menos guitarra. Era um Red Hot Chilli Peppers mais clean, sem deixar de ser bom.

Quando By The way foi lançado, quase 3 anos depois, a turnê mundial passou pelo Brasil e lá estava eu durante 8 horas no Pacaembu, esperando o grande momento. Horas de fila e horas de sol na pista, anoiteceu e todos lá, firmes e fortes, e eis que surge Flea, fazendo gracinhas e se contorcendo com o baixo, tudo para anunciar Anthony Kieds e a música que deu nome ao disco, que abriu aquele que seria o show da minha vida.

É complicado falar de algo que a gente gosta sem enxer de firulas, mas até hoje não conheci alguém que não gostasse de Red Hot, mesmo com as peculiaridades que só eles têm, é difícil não se entregar ao som dessa banda. Nove anos depois eles voltam para o Rock in Rio 2011, e de pensar que lá no começo eu era uma criança já enlouquecida com Give It Away, hoje não existe ansiedade, existe apenas a certeza de que vai ser bom, apenas muito bom.



terça-feira, 19 de outubro de 2010

você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José?

Quando é que a gente sabe que é preciso voltar?



"...Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?"

quarta-feira, 19 de maio de 2010

É.

Hoje tudo o que eu queria era estar em casa. De meias, pijama... vendo qualquer coisa que dê muito sono na TV, enquanto o cachorro entra sorrateiramente na sala e pensa que eu estou dormindo. E então ele se senta perto de mim, e observa. E eu observo ele. Ouvir o barulho da chuva e dar graças á Deus por não estar em pé no trem sentido Osasco ás 18h, e levar mais 4h pra chegar em casa, para só então dormir. Queria ler os 3 livros que me olham como se eu fosse uma criminosa, por tê-los enganado e dito que sim, vou ler todos! Queria não ter que fazer tantas coisas inúteis, ou ser mais útil em alguns momentos. Não me importo com tantas coisas, porque já não tenho tempo para elas. Não que eu quisesse... mas.

É, estou cansada.

terça-feira, 11 de maio de 2010

She looks like the real thing.

Desde criança nunca gostei de aniversários ou qualquer tipo de comemoração que me envolvesse, e que eu fosse me tornar o centro das atenções por mais de dez segundos. Minha cara de “me tira daqui” durante o parabéns, só não era melhor graças á minha timidez, e minha mãe que me jurava tabefes se eu não sorrise. E claro, eu ganhava vários. Uma vez cantaram parabéns pra mim na sala de aula, e eu senti mais vergonha do que no dia que meu dente da frente caiu. Das poucas festas que minha mãe organizou em casa, me lembro das crianças nefastas que surgiam querendo que eu abrisse MEUS presentes pra ELAS brincarem, da espera por aquele tão sonhado presente que nunca me davam, e das toneladas de chantilly com aquelas bolinhas de alumínio que minha tia adorava enfeitar o bolo. Esse, que nunca tinha o recheio que eu gostava. Sempre de pêssego, ameixa, figo, qualquer coisa bizzarra... brócolis! Menos o doce de leite, que eu tanto queria. Os pães de fôrma com patê, os doces que minha mãe sempre errava e fazia brigadeiro com o preparo do cajuzinho. As tubaínas trazidas pelos meus tios, e eu enchendo as bexigas de água, e levando bronca por isso, tem um toque estranho de nostalgia. Uma das recordações mais marcantes é sem dúvida quando eu acreditei por meses que ganharia a boneca tão sonhada e desejada por todas as meninas da década de oitenta: A barbie “noiva”! E ela estava lá, na caixa rosa pink e eu a vi sendo entregue para uma das minhas primas, que fez o favor de comemorar o aniversário junto comigo, enquanto eu tive que me contentar com o kit cozinha de plástico, que continha diversos legumes e uma faca. Sim, uma faca. Hitchcok me pagaria milhões por essa história contada detalhadamente, e Freud riria de mim. Riria hoje, até doer a barriga. Mas é porque ninguém entende que fazer aniversário não é legal, e quem disser que gosta está mentindo, é bobo, feio e chato. Ainda mais nós mulheres, quando nos deparamos com menininhas ovulando e causando por ai cada vez mais cedo, indo em balada de adulto e o pior, usando maquiagem própria. Meu primeiro sutiã veio antes do meu primeiro rímel, e hoje em dia já existe o kit: rímel, lápis de olho, sombra, chapinha, reparador de pontas, salto alto, cigarro, silicone e só então vem o sutiã. E um CD do Fresno, ás vezes. E é assim mesmo que acontece. Tudo bem, nem tudo é um fracasso na minhas recordações. Mas chegou uma época que eu não me importava em não comemorar. Mas essa semana é a minha vez denovo, e não sei se não vou me importar, mas apesar de tudo vai ser um dia normal como qualquer outro. Vou trabalhar, pegar ônibus lotado, fila pra tudo, mais ônibus lotado, estudar, casa e a coisa toda de todos os dias. E vez ou outra vou me comparar com alguma menininha que provável e obviamente será mais nova que eu, e achar isso tudo uma grande babaquice. Isso de se importar e escrever texto sobre aniversário, de se achar velha e cafona por ainda saber as músicas do primeiro disco do Backstreet Boys, e não saber para que serve o Formspring. Mas tudo bem, não vai mudar muita coisa. E minha tia não vai se lembrar qual é a data, e graças á isso, não vai ter recheio de figo, quiçá um bolo. Mas não me importo. E quando o sol nascer no dia 14 de maio, eu vou sorrir. Prometo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

McDonald’s

Estou no McDonald’s da Praça de Espanha de Zaragoza, esperando na fila gigantesca, com os olhos cravados nos anúncios de preços, o dinheiro justo na mão direita, notas amassadas.

Estou agora no subsolo, no piso de cima foi impossível.
Estou sentado ao lado de um garoto negro que tem na mão uma batata amarela untada de ketchup muito vermelho: Santíssima bandeira do outro mundo, o garoto negro que resplandece,meu irmão cego.
O garoto está só, não bebe, não sobrou para a Coca-cola, só batatas.
Só batatas, só batatas, essa desgraça,essa solidão idêntica à minha, compreende?, só deu para as batatas, e está sentado, quieto, em seu trono, a negritude e o garoto,no trono, ali, ali, nesse trono radiante.

MacDonald’s sempre está cheio.
É o melhor restaurante de Zaragoza,uma alegria despedaçada nos despedaça o coração:
Por três euros te enchem de caixas, de copos plásticos, de sacolas, de canudinhos, de bandejas. É o melhor restaurante do mundo. É um restaurante comunista.
Romenos, negros, chilenos, polacos, cubanos, eu mesmo, aqui estamos, debaixo, ao lado de um boneco, ao lado de um cartaz que diz “Amo muito tudo isso”.
Tenho uma bota em cima de um charco de sorvete de creme derretido. Olho o creme comer o salto de minha bota.
Um creme branco, despedaçado.
Arde o sol sem tempo, mexe a mão suja.

Ao meu lado, uma garota de vinte anos diz a um cara de dezessete que não lhe incomodaria transar com ele. Com ele, com ele, um eco negro.
E riem e engolem batatas fritas. E eu engulo batatas fritas.

E dois gays estão comendo em frente o mesmo hambúrguer gotejante, cada boca num lado, e se mancham e se mordem.
E engolem batatas fritas. E se beijam. E se tocam.
E se despedaçam.

Em Londres, em Paris, em Buenos Aires, em Moscou, em Tóquio, na Cidade do Cabo, em Tucson, em Praga, Em Beijing, em Gijón, somos milhões, a tarde esfarrapada, a dor no cérebro, a comida, milhões em milhares de subsolos esparramados pela grande terra dos homens.
Estou em paz aqui com tudo: a carne barata, a vida barata, as batatas baratas.
Me sinto Lênin. Sou Lênin, o gay inusitado, o grande herege, o louco supremo, o filho da última mão miserável que tocou o monstruoso coração do céu.
Se Lênin voltasse, McDonald’s seria o lugar, o palácio sem lua, o gueto das reuniões clandestinas.

Algo importante está acontecendo neste subsolo do McDonald’s da Praça de Espanha de Zaragoza, mas não sei o que é.
Não sei.
De um momento para outro, vamos arranhar a felicidade:
o garoto negro, os namorados, o boneco, o creme do chão, minhas botas.
Botas novas, de couro brilhante, com o bico fino em sinal de morte.
No MacDonald’s, ali, ali estamos. Carne abundante por três euros.

[ Poema do espanhol Manuel Vilas, publicado na Colección Visor de Poesía, 2005 ]

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Na Periferia.


A nova moda do momento é falar da periferia, e nem sempre quem fala é quem vive, ou conhece. Mas falam, divagam, procuram “soluções”. Que a vida é difícil, que o preconceito existe e que tem gente que tem medo de conhecer, todo mundo sabe. Enchente, assalto, barulho, criminalidade, está lá nas páginas do Jornal, e tem em todo lugar, mas é na periferia que “acontece”. Outro dia, uma professora da faculdade disse num tom apavorado: “Gente, vocês já foram numa favela? Já entraram em uma? Ai gente, eu nunca fui, mas disseram que é horrível!” Pois é, horrível mesmo é esse pensamento medíocre que algumas pessoas têm de coisas que elas pré-julgam. Também não vou defender, já que não é por que eu moro nela que eu gosto de falar. Mas é bom deixar as pessoas com seus mundinhos perfeitos, achando que aqui é a zona de guerra dos filmes que elas assistem.
Eu moro no Jardim Ângela desde que eu nasci, aqui é o extremo, o caos, ou o que você achar que seja. O Jardim Ângela é vizinho do Capão Redondo, e já teve 112 homicídios por 100 mil habitantes, no fim dos anos 90 foi apontado pela ONU como a região mais violenta do planeta. Apenas para efeito comparativo, na mesma época o bairro de Perdizes, tinha uma taxa de 6 homicídios por 100 mil habitantes. E existem lugares aqui que eu conheço de ponta a ponta mas que muitos amigos meus não entrariam nem pra salvar a mãe. E pra quem vive aqui é lugar comum. Tudo bem entrar na favela pra comprar pão, visitar um amigo ou cortar caminho. E por isso eu sempre tomei bastante cuidado com o que dizer, e para quem dizer, sobre o lugar onde eu moro, assim como não é qualquer um que eu trago aqui. Não por medo do que vão pensar de mim, e sim pelos julgamentos que as pessoas (como a tal professora) possam ter.
Eu levo uma hora e meia pra chegar ao centro de São Paulo de ônibus, se chover são três. Com as chuvas, as ruas que têm asfalto viram rios, as que não têm viram um mar de lama. Desde criança me acostumei com os tiroteios, gente morrendo de tiro, de faca, de paulada. A escola fechada porque a professora morreu assassinada por um aluno. Essas são coisas que quando a gente cresce, e quer, nos faz pensar e escolher o caminho inverso. Ir estudar, conhecer outras culturas, trabalhar, ocupar a mente. Eu, felizmente, escolhi o meu caminho inverso, mas sei que milhares não escolheram, e preferiram ficar.
Mas ás vezes, tudo é uma questão de escolha. Você escolhe julgar, você escolhe ser julgado. Você escolhe ficar, você escolhe ir em frente.

A periferia é um lugar bom, pra quem é bom pra ela. Pra quem é neutro de preconceitos. Mas está muito longe de ser um exemplo de lugar pra se viver, isso é fato. Falta água, falta luz, tem miséria, tem assalto, tem gente morrendo...e vez ou outra é manchete em algum noticiário. Quem é daqui já tem o remédio pra todas essas feridas, que é enfrentar o preconceito, viver e querer ir além, apesar de tudo isso.

Fotos: Tuca Vieira/ Newton Re Junior.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Azeda.



Esses dias trancafiada em casa, me deram várias idéias pra isso aqui.
Tudo bem que minha pegada é jornalística, e que eu não vou deixar isso de lado, mas porque não falar da vontade que eu tive de arremessar coisas, de não falar com ninguém, de responder "daquele jeito" pra qualquer pergunta que me fizessem? TPM, gente. Tá, eu ia escrever sobre o Tom Wolfe, já que meu trabalho é sobre ele, mas e a TPM? Ou "desordem disfórica" como um amigo me falou. É incrível como esse período traz uma dimensão avassaladora pra qualquer situação mínima que seja. Até lavar a louça vira drama mexicano. Me acho a Helena do Manuel Carlos, que chora a cada 2 minutos em cada capítulo da novela, e a gente nunca sabe o motivo. O legal foi que eu descobri que em alguns estados dos EUA, se uma mulher comete um crime na TPM, ela não vai presa, porque eles consideram que a mulher não está correta em suas "faculdades mentais", então... deve ser mais legal ter TPM nos Estados Unidos. Mas também, descobri que parece haver uma íntima relação entre os hormônios sexuais femininos, as endorfinas e os neurotransmissores tais como a serotonina, e por isso bagunça tudo. Mas e daí? Eu queria um caminhão de chocolate, não quero saber de endorfina! E tratamento? é uma síndrome, não existem tratamentos específicos para síndromes. Então ok. O jeito é "me aguentar". O bom é que essa síndrome passa, e hoje eu estou melhor, tirando o arrependimento por causa do(s) tal(ais) chocolate(s), eu tive paciência pra esperar o windows funcionar sem falar nenhum palavrão. E mês que vem tem mais!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fábrica de Sonhos




Por,
Ana Paula Brito
Pamela Alexandre
Silvana Gotardi


A entrada é toda ladrilhada com garrafas recicladas, as portas feitas de bolinha de gude, o chão repleto de notas musicais e as paredes cobertas por grafitti do grupo Gente Muda. No terraço, o desenho em 3D de uma praia de tão perfeito poderia ser real, não fosse a cobertura cinza dos telhados da vizinhança ao redor.

Somente depois de percorrer todo esse espaço é possível entender o significado do nome "Fábrica de Criatividade".

O centro cultural, localizado no bairro Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, foi inaugurado em 2005. A idéia surgiu em 1997, quando o fundador, Denilson Shikako, resolveu criar um espaço onde moradores da periferia tivessem acesso a diversas formas de arte.

No entanto, uma tragédia colocou em risco o nascimento do projeto. Em 2000, o pai de Denilson foi assassinado, vítima de um assalto. O pensamento era um só: deixar o país o mais rápido possível. Mas a dor da perda se transformou em força e, com a ajuda de amigos e familiares, Denilson decidiu ficar e dar vida ao seu grande sonho. Nasce então, a "Fábrica de Criatividade".

Atualmente, o projeto oferece 29 cursos, como teatro, dança, canto e pintura. As mensalidades cobradas têm valor muito abaixo do mercado e ajudam a manter a Fábrica funcionando. Há também, a concessão de bolsas de estudos àqueles alunos que não podem pagar.

Com o aperto financeiro, Denilson teve que vender seu automóvel e comprometer suas economias para quitar as dívidas da Fábrica.

De acordo com Maria Fernanda Carmo, coordenadora do núcleo pedagógico da Fábrica de Criatividade, o projeto não recebe nenhuma ajuda do governo e enfrenta dificuldades para continuar atendendo à comunidade.

"Podemos  atender à população de baixa renda somente quando temos nossos projetos aprovados e a verba captada via leis de incentivo. Em 2008, tivemos 600 alunos estudando gratuitamente e envolvidos com a proposta da instituição, por meio da verba investida pela lei Rouanet. Transformamos o dinheiro recebido em valor suficiente para promover mais de 60 eventos culturais para a comunidade e conceder muitas bolsas de estudos".
 
Nos últimos anos, mesmo com algumas leis de incentivo à cultura, o déficit de apoio à produção cultural ainda é grande.  Conseguir patrocínio para as atividades culturais e suporte financeiro para manter os cursos não tem sido uma tarefa fácil para os gestores da Fábrica de Criatividade.


Vernissage da Exposição "Sentidos" - Gente Muda
 
"Descobrimos, na prática desses anos, que é estritamente necessário manter um núcleo de sustentabilidade, composto por profissionais que se preocupem apenas com a gestão financeira do projeto. O que acontece, muitas vezes, em instituições  como a nossa, é que elas começam os projetos sem uma organização mínima que se deve ter para funcionar. Temos o projeto educacional aprovado por duas leis de incentivo à cultura, o que não é suficiente para manter a Fábrica funcionando como deve ser."
 
Desde 2006, a Fábrica de Criatividade abre suas portas para eventos culturais gratuitos destinados à comunidade. Pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ir à uma exposição de arte, ou assistir à uma peça de teatro, têm acesso livre aos eventos, e melhor, na região onde vivem. Mas qual é a mobilização da periferia?

Segundo Maria Fernanda, formação de público é um fator essencial para que essa mobilização aconteça, e não é algo tão simples. Depende de divulgação e da possibilidade de um real acesso ao que se oferece.
 
"Fazer chegar à população a proposta do projeto é algo que exige tempo, dedicação e dinheiro. Em primeiro lugar, formou-se uma equipe responsável por tecer a rede com o entorno - escolas, espaços sedes de movimentos culturais, pessoas. A equipe saía para divulgar as atividades da Fábrica de Criatividade, estabelecer parcerias, oferecer o espaço para escolas e artistas, oferecer bolsas nos cursos para os moradores da região. Aos poucos, a organização começou a ser reconhecida como um espaço cultural que promovia eventos de qualidade gratuitos e uma referência de educação em artes."


Estrutura interna da Fábrica de Criatividade

Mesmo com tantas dificuldades, o sonho está realizado e a Fábrica de Criatividade continua produzindo novos sonhos todos os dias, dando voz e perspectivas a uma parcela excluída da sociedade, promovendo a tão falada democratização cultural.



"A periferia vem se mostrando cada vez mais. E os seus moradores estão entendendo que não são meros expectadores da vida, mero peões, meros soldados, sempre executando planos alheios, dos então donos dos meios de produção. Vêm percebendo e sentindo, que são produtores, autores e atores da própria vida, da construção do mundo. E essa sensação de novo sentimento se deu a partir dos diversos movimentos culturais, que bradam a cultura da periferia para todos ouvirem.” explica Maria Fernanda.

Ao longo da história de formação dos pólos urbanos, a lógica que se estabeleceu para a relação entre o centro e a periferia definiu que o primeiro produz o que o segundo recebe por não ter capacidade de gerir. Hoje a inversão dessa lógica é muito clara. Em sua opinião, qual a importância de se criar projetos que contribuam para a formação efetiva de uma periferia "produtora", tanto a nível social, político e até econômico?

Indispensável.
E é exatamente esse o objetivo da Fábrica de Criatividade. Que não é mais um projeto do terceiro setor que aparece para cobrir os buracos do vazio que o Estado deixa sem entender o seu papel político, social e econômico. Nem mais um projeto que repete no seu discurso uma lógica de caridade e filantropia ou de práticas silenciadoras ou que usem a arte e a cultura como “circo” para os participantes do projeto, para, tirá-los do espaço da rua e de disputa, para calar-lhes a boca. A Fábrica existe para contribuir, para dar-lhes voz. E isso só é possível com esse olhar ampliado, de que o projeto existe para contribuir para um processo grande, que é social, político e econômico.
E é através de projetos como esse, que a arte chega até a periferia de São Paulo. Através de pessoas que acreditam, e que doam suas vidas para abrir as portas para aqueles que também merecem entrar.

Agradecimento: Maria Fernanda Carmo - Núcleo Pedagógico
Fotos: Site Fábrica de Criatividade - http://fabricadecriatividade.com.br/

Fábrica de Criatividade
Rua Dr. Luís da Fonseca Galvão, 248 – Parque Maria Helena – São Paulo - a 100 metros da Estação Capão Redondo do Metrô.
CEP: 05855-300 - Tel. 11. 5511-0055

quinta-feira, 4 de junho de 2009

(...)Será que mais Alguém vê e escuta?

Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.

Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?
Ariano Suassuna

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Approach e Poesia

É sempre mais difícil escrever algo sobre quem se admira. E é quase impossível não usar os confetes e aquela coisa toda. Mas, como fâ e estudante de jornalismo, vou tentar.
 
Me senti realizada após assistir ao Pocket show do Zeca Baleiro junto com o poeta e jornalista Celso Borges, que aconteceu no último sábado na Biblioteca Alceu Amoroso Lima em Pinheiros aqui em São Paulo. A apresentação faz parte do projeto “ Parceria: a voz da poesia” que reúne poetas e compositores para tratar do diálogo possível entre música e poesia.
 
Nascidos no Maranhão, Borges e Zeca, realizaram alguns trabalhos juntos desde os anos 80, e a sintonia entre os dois naquele sábado, era nítida.
Um show intimista no pequeno auditório da biblioteca com 130 fãs, à espera de sucessos como Telegrama e Babylon... se depararam apenas com um Zeca Baleiro (sem chapéu) letrista, deveras poeta, que junto com Celso Borges musicava prosas e poemas acompanhado pelo olhar surpreso e não menos feliz dos poucos que puderam presenciar aquele momento.
Com influências de grandes nomes da poesia nacional, como Manuel Bandeira, Mário Quintana, Drummond, Hilda Hilst e Fernando Abreu, o fim daquela tarde de sábado foi repleta de boas rimas, sons e palavras.

Para (nós) fãs, foi um grande e raro presente despojado, simples, que assim como todos as apresentações de Zeca Baleiro, seja para 130 ou para 130 mil pessoas, dá sempre vontade de ouvir um pouco mais.

Como jornalista, e ao lado do Daniel fiz umas fotos para ilustrar o momento, e claro, como fã fiz uma ao lado do ídolo também.

Mais fotos aqui.




terça-feira, 31 de março de 2009

I feel nice, like sugar and spice

A semana ás vezes inútil, ás vezes nem tanto. Seguir pessoas no Twitter ou ouvir mais de 5 vezes a mesma música, e outros tantos livros esperando pela minha doce vontade de apenas sentar, ficar quieta e ler. Mas não. O golpe certeiro de algo que eu nem vi, me disse que não. Eu não quero isso. Pelos dias que passam, pelas vontades que ficam... o telefone que chama, chama, chama...ou nem isso. O Calor, a esperança da chuva e do abraço. E tantas esperanças, que eu nem sei mais. É bom não saber, alguém já me disse. Evito olhar no espelho, mexer aqui ou acolá, procurar dúvidas no Aurélio, ou num breve silêncio quando falam coisas que eu não sei. As conversas eram mais divertidas antes. Eu presto mais atenção ao invés de ser a atenção. Fase. Mas me chateio bem mais, e então me afasto. Não faço questão da presença, da gentileza. Tanto faz. Melhor longe, do lado de fora, com a porta fechada em silêncio. Porque é fácil falar quando não se sabe, quando convém. E eu estou muito bem aqui com as minhas coisas, MINHAS VERDADES. Egoísta. Senta e fica quieta. Ver todo mundo passar, me olhar, comentar, irem. Já não tenho mais o que falar, mas não me conformei com a minha realidade (inventada?). Conformar é para os fracos lá na outra fila. Essa fila aqui é pra quem está vendo o sonho acenar lá do outro lado, e vai correr atrás dele.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Incondicional


quando muito falam em filhos, em gravidez precoce (ou não necessariamente) não me vem nada na cabeça além de: "é bem melhor ter um cachorro!". E não estou errada. Até porque, as obrigações são quase as mesmas, mas um cachorro dificilmente vai ser 100% dependente de você durante a vida dele.
Há um ano e meio atrás decidimos ter um (cachorro), e a cada dia uma infinidade de argumentos nascem aqui dentro. Tudo bem que ele não é um dos mais calminhos, e a obrigação de bagunçar assim como uma criança de 4 ou 5 anos, é o lema dele. Os brinquedos espalhados pelo quintal, e a necessidade de chamar a atenção em pequenos atos como, deitar no meu pé enquanto converso com alguém, entrar em casa e roubar meias, almofadas, tapetes ou qualquer coisa que esteja ao alcance. Jogar os brinquedos dele no meu colo, para que eu jogue por 200 vezes e ele me traga todas as vezes. O gato que tenta invadir o território é a diversão de uma tarde, assim como a tampa de alguma coisa virou o mais novo brinquedo. Ou como será a visão de cima da casinha, ou quando tenta a todo custo deitar em baixo das minhas pernas, ou as brincadeiras de pular nos outros (em mim, no caso) são sempre as mais legais. A dependência existe de alguma forma, mas ele não precisa de mim pra se divertir, e dorme sozinho no quintal sem eu precisar cantar musiquinhas, nem pedir silêncio aos vizinhos. Posso deixar ele solto, que ele se esconde da chuva (mas depois vem carimbar minha roupa com suas patas ensopadas) come quando quer, a comida está lá. Posso deixá-lo livre na pracinha que ele está sempre de olho em mim. E vez ou outra, enquanto eu escrevo isso aqui ele aparece na porta e me olha, com a alegria nos olhinhos que logo vão se render ao cochilo leve e despretensioso, que me faz entender sempre, que ele é sim quase como um filho que eu me divirto em ter.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


quinta feira com cara de segunda.
tão longa quanto uma segunda.
vou parar de ler esses filósofos pão com ovo. Já que nada muda e as coisas só se confundem.
pintei as unhas e escrevi umas 3 resenhas desnecessárias, enquanto o beagle jogava o brinquedo nos meus pés e uma amiga perdida me falava sobre casos frustrados e possibilidades estranhas;
Essa foi a saída.
E Nietzsche nunca entenderia.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009



Acho que agora vai.
O carnaval passou, mas a culpa não foi dele. Tenho 4 livros esperando, e outras tantas coisas pedindo para não serem amassadas.
chuva fina lá fora.
Bateu uma insegurança desse momento. Insegurança que passa, mas que vem dolorida e congela minhas mãos. Bateu vontade de não ir mais ao encontro daquelas doces conversas derretidas. De lançar perguntas e não sorrir quando minha vontade é apenas estar em silêncio. Sem responder nada e sem me importar com as horas que passam. Eu já não sei se a Clarice entenderia. Mas ela não sorria assim tão fácil. E se é assim, pra onde iria a minha essência? Aquele brilho?
Eu não acredito em inferno astral, nem nessas crises que as pessoas começam á ter com a idade. Talvez isso tudo seja assim mesmo. Essa desvontade. Essa eterna falta do que falar. A insegurança.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Alguns cobram, outros pensam que é fácil. faz anos que entrei num silêncio e numa desvontade imensa de escrever qualquer coisa que fosse. Tá, não foi bem assim. mas chegou bem perto.
acho que foram as pessoas, ou a minha falta de tempo... eu sempre culpo algo ou alguém, mas na verdade a culpa foi minha.
mas devolta, vejo que a casa está em ordem. apesar dos tropeços e da poeira ali no canto. acho que escrever pode me salvar um dia. como me salvou uma vez, mas eu ainda duvido de muitas coisas. inclusive que eu vou levar isso tudo á sério.
a vida aqui do lado de fora é bonita, muita gente encontrou seu caminho e hoje sorri. eu me perco todo dia em busca do meu, e ainda vejo beleza aonde plantei aquela interrogação.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Head over feet

2008 foi pra lembrança e todos os blogs que eu leio só falam disso. Enfim. Overdose de café e a rádio Eldorado com aquelas musiquinhas ecoando aqui. E só pra seguir o clichê básico de um começo de ano cheio de clichês, antes que a minha rinite volte, o cachorro implore atenção, e eu desista, eu queria muito prometer que esse blog terá mais “atividade” nesses próximos meses. É tudo o que eu sou capaz de prometer (ou não), já que talvez ninguém leia ou se importe. Um turbilhão de dias úteis, como nos velhos tempos, e que vez ou outra eu vou transferir pra cá. Sem chorumelas, como dizem, mas sem muita obrigação também. Porque eu sou brasileira né? E aquele lema de que não desisto nunca até que é verdadeiro.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pasárgada


pegou a mochila, cortou alguns fiapos que saíam pelas bordas, fez cafuné no cachorro. caso fosse ao paraíso, voltava para pegar o amigo. olhou a bagunça, pensou que não precisava mais arrumá-la porque, caso fosse mesmo pra lá, pegava apenas o cachorro e, no máximo, tentava encontrar um livro que queria dar a ela, ela ia gostar, ficar tentando encaixar frases na vida dela, que agora era também um pouco dele, a vida. era a vida deles. enfiou a cabeça na pia pra refrescar e separou um pacote de biscoito pra comer no trem. pegou uma foto estranha e enfiou no bolso da frente. levaria a foto pra ela; ela gostaria de ter me conhecido nessa idade. foi com a roupa do corpo mesmo. caso se mudasse, voltava para buscar o cachorro.

fez uma malinha. meia, camisa, saia e calcinha. checou as tomadas, viu se não tinha nada podendo entrar em curto, gás escapando, luzes ligadas. arrancou uma rosa da janela e enfiou no bolso; caso não murche. se encontrariam no meio do caminho para o paraíso e, se tudo desse certo, iam pra lá morar. levava pouca coisa, de pouco precisava. na barriga, tinha um saco cheio e embrulhado que dizia "futuro", embora nenhum dos dois soubesse exatamente o que aquilo queria dizer. acho que ele sabia mais do que ela, porque era uns três anos mais velho, ou pelo menos era o que parecia. ela levava apenas roupas para três dias. caso fossem ao paraíso, voltava para buscar alguns livros e, quem sabe, o cachorro (se a mãe não pudesse). se encontrariam às três. era no meio do caminho da casa dele, era no meio do caminho da casa dela. como se um fosse o espelho do outro (para a surpresa dela, que já havia antes pensando coisas boas e também já havia suspeitado de outros espelhos, mas aquele era definitivamente o que mais tinha suas cores).

se encontrariam às três da tarde no paraíso.

Pérola


Houve tempos em que minha maior diversão era escrever. Era sentar á qualquer momento do dia e escrever textos que eram quase um divã, e-mails pra alguém falando sobre ele, sobre mim, sobre nós. Sobre o dia longo, a tarde quente, noites vazias e certas vontades. E hoje, limpando os e-mails daquela conta antiga, eu me deparei com os trechos daquela época, escritos por mim e pela Pérola (Por Onde Andará?) com todos os sentimentos possíveis, todas as verdades e aventuras dos nossos corações, ditos um ao outro.
Era incrível como a gente se entendia, sem eu nem ao menos ter conhecido ela, as histórias tinham a ver, os castigos, as diferenças. Chega á ser redundante, bobo, adolescente demais.

"meu dias têm sido estranhos, um após o outro, como uma dança que tem seus momentos, seu auge, e depois morre. eu estou no auge."

Era o momento em que eu me afogava em tantas coisas, como agora, e que também era feliz, e um pouco sozinha também. Gostava mais dos livros e me apaixonava tanto.

"tudo o que eu escrever aqui vai ser assim, meio lá, meio cá... dispersa, ouvindo mais o coração do que qqer outra coisa, de mal com o word e com a gramática, com sede, com sono, dramática e sincera. e sei lá mais o que. "

A Pérola era uma amiga que nunca me viu tagarelar numa tarde quente numa mesa de bar, nem deu risada das minhas piadas sujas; Ela nunca viu minhas unhas bonitas, ou feias. Nem acompanhou meu silêncio, ou sequer me acompanhou por aqueles caminhos que eu sempre acho que conheço. A Pérola chegou em mim por causa do Bukowski e alguns versos que eu gostei. Nunca gostei das musicas que ela gostava, e nunca soube realmente qual era a altura dela.

"estou de maletinha plástica de rodas num cyber, sem saber BEM pra onde ir mas indo. vou visitar a catalunya. descobri que a espanha, na verdade, nao existe. o que é a espanha?"

Mas agora só ficou saudade, e a vontade de um dia ir ao Rio pra gente passear no bairro das Laranjeiras, e sorrir porque eu sempre vou ver meio assim e ela também. Eu vou usar uma flor no cabelo e vou observar as pessoas, enquanto ela gesticula e diz: "é paula, você existe mesmo!"

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Come away with me...


Eu poderia escrever sobre várias coisas, e começar isso aqui do modo mais clichê possível. Falar do calor, das pessoas passando, da falta, das minhas unhas mal feitas, e aquela vontade que ás vezes eu sinto de não ir.

Mas não vou. Eu vou falar de mim, dessa que sabe o tamanho do erro mas mesmo assim, atropela ele e sai como se não tivesse perdido a calma. Como se o caminho mais longo fosse o melhor.

Eu conheço alguém que entenderia e talvez responderia meu silêncio, com um silêncio, ou com uma risada pequena no canto da boca. Aliás, acho que não conheço mais esse alguém. Ficou perdido por aí, num daqueles contos technicolor que eu inventei. Por que sou eu, por que é assim. Com as paredes rabiscadas, e a estranheza que faria o Bergman sorrir.

Mas, oi, tudo bem? lembra de mim? aquela das idéias esvoaçadas e os olhos brilhando, talvez de alegria, ou talvez (pra rimar), de agonia. Sempre querendo a tal casa na montanha, onde o pôr-do-sol é diferente todo dia, e os girassóis nascem por nascer. Queria escrever, cantar, viajar, dançar. Queria não ter hora pra chegar. Eram longos os caminhos, mas eu nunca perdia a esperança. Eu sorria por que era mais fácil viver, por que era assim que eu queria. Por que quando alguém dizia, eu acreditava. Eu sabias aquelas musicas todas, e meus discursos eram poesias endurecidas. Nas tardes despretensiosas, e noites infinitas. Era eu lá. Sempre.
E agora, você lembra de mim??